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sábado, 24 de março de 2018

Estratégia para viver viajando após a independência financeira

Moro numa grande capital do Brasil e recentemente comecei um mochilão sozinho pelo país (devo falar mais sobre essa experiencia em outras oportunidades) e tenho visitado lugares que julgo muito bons para alguém desfrutar a independência financeira. Comecei pelo interior e automaticamente fui me direcionando para o litoral, onde me identifico mais por causa das praias, culinária, clima e esportes aquáticos.

Sempre tive em mente de que a cidade onde moro é um lugar para se “produzir dinheiro” e não para desfrutar. Tenho nessa cidade meu “marco zero”, onde tenho meu apartamento (quitado e mobiliado) em uma localização muito valorizada. Se por ventura eu o alugasse, me renderia entre 4.000 a 6.000 reais mensais.

Essa viagem está tendo três grandes motivações:
  1. Uma experiencia de como é viver independente financeiramente com minha TSR sem ter uma moradia fixa, ficando entre 1, 3 ou até 6 meses em um único lugar do meu agrado no Brasil ou em qualquer outro lugar mais barato ou com custo de vida equivalente. 
  2. Refletir sobre a vida, sobre as minha motivações e encontrar um sentido mais existencial. Percebo que quando estamos num trabalho intenso ou num grande centro somos bombardeados por estímulos e corremos o risco de perder nossa própria essência. Já não sabemos se estamos indo para esquerda ou direita porque queremos ou se estamos sendo conduzidos sem nos dar conta.
  3. Encontrar um lugar que me identifique mais para viver e aproveitar mais a vida fazendo coisas que gosto como surfando, me alimentando melhor, com menor custo e maior qualidade de vida. 


Começando pelo primeiro item, tenho mantido uma média alta de gastos por dia... Estou em ritmo de férias e com uma média diária de R$ 340,00. Acho bem elevado, mas acredito que esse seria bem menor caso fizesse isso de forma mais "profissional” e mais estável. Mas algo que venho percebendo é que não sou o estilo de “viajante roots” que fica em barraca, dorme na praça se necessário e fica extremamente confortável em um quarto compartilhado de hostel. Tenho mesclado diferentes tipos de hospedagem, desde hostel de 60 reais a diária, pousadas que variam entre 150 e 250 reais, e cheguei a ficar em um hotel de 500 reais por 1 dia e me dei o direito de jantar lagosta e degustar um bom vinho.

Um bom target para mesclar frugalidade e conforto estaria na casa dos R$ 250,00 por dia incluso estadia, alimentação e demais gastos. Eu saí de casa sem planejamento com uma mochila nas costas sem saber para onde ia e nem quando voltaria. Outro detalhe é que costumo ficar em média 3 dias em cada destino, o que me faz gastar mais com transportes já que me locomovo mais e com hospedagem já que não tenho margem de negociação. Nesse valor está incluso tudo, passagens, alimentação, hospedagens, passeios, lazer, farmácia, mercadinho, lembranças (que despacho pelo correio para não pesar na mochila), e todos os demais gastos dentro da viagem. Só está fora meus gastos fixos mensais: Plano celular, plano saúde, seguro carro, condomínio, IPTU, energia elétrica e Internet/TV a cabo.

No item 2 eu estou me surpreendendo pois essa experiencia está sendo muito enriquecedora. Saí de uma bolha onde tinha sempre os mesmos contatos, os mesmos assuntos e as mesmas preocupações para ver um mundo muito mais amplo, onde as verdades são relativas e cada pessoa busca um caminho diferente para si. Onde mais tive a oportunidade de experienciar boas histórias foram em hostel, com pessoas de todos os tipos, nacionalidades e motivações. Talvez nesse momento que escrevo eu ainda não tenha noção da quantidade de novas informações vou levar comigo para processar e refletir sobre o sentido que quero dar para minha vida.

O último item que se refere a encontrar um lugar para amarrar meu burro foi um dos principais pontos que me motivaram e escrever esse post. Tenho lugares que estou passando no litoral do nordeste com praias paradisíacas e algumas poucos exploradas. Parece que nosso R$ vale mais pois a vida da população é mais simples. Por exemplo, precisei ir no médico por causa de uma virose e meu mega plano de saúde de R$ 800,00 por mês aqui não valeu de nada já que fui num posto de saúde e atendido pela primeira vez pelo SUS.

Com a vontade de me fixar mais em um ponto vem um desejo de procurar terrenos para comprar, para construir uma casa na beira da praia e viver de forma “simples” e longe de todos aqueles estímulos massificados que encontramos nas grandes cidades. Mas no momento seguinte eu reflito... Não faz sentido pegar 100, 200, 300 mil reais para investir em um terreno (que por esse preço não será na beira da praia), e mais uns 200, 300, 500 mil reais para construir uma casa e me fixar definitivamente, ou mesmo construir um elefante branco pois amanhã posso querer estar em outro lugar.

Sempre pensamos... Ahh, mas pode ser que valorize no futuro. Certamente em um paraíso como esses, daqui 10 anos estará bastante valorizado. Mas acredito que os preços de terreno no Brasil estão bastante inflacionados e tudo agora parece que custa 1 milhão. Se todo lugar que eu gostar e quiser morar eu tiver que comprar um terreno / casa / apartamento eu transformarei todos meus recursos líquidos em imobilizados. Tenho dificuldade, mas tudo indica que o melhor é ter uma vida livre e “usufruir” do que os outros imobilizaram, mantendo todo o ativo liquido e gerando renda a partir de investimentos e tendo a liberdade de ir e vir.

Acho que por estar próximo dos 40 anos a minha geração foi bem a transição entre os que acreditavam que ter bens é o negócio mais sensato e seguro, e entre a geração Z que já tem esse conceito de que o mais importante é usufruir e não necessariamente ter.

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Para se aprofundar no assunto, recomendo a leitura do post Dinheiro, vida livre ou imobilizada do blog Clube dos Poupadores. Frequentemente releio para reforçar esse conceito de que devo continuar investindo bem e tendo uma TSR saudável.