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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

FIRE Parte I: Glamour x Liberdade


Inicialmente imaginei que largaria meu trabalho para iniciar minha vida FIRE quando atingisse 40 anos. Após muitas contas, planilhas e estudos, decidi antecipar um pouco. Tinha a eterna dúvida: “Será que minhas reservas são suficientes?” ou “Deveria juntar mais um pouco?”. Sempre buscamos desculpas para não iniciar algo ou protelar uma decisão difícil, pois além do dinheiro, um dos pontos mais difíceis é largar a segurança da rotina por um futuro desconhecido. O ser humano adora a previsibilidade e se sente menos ansioso quando está inserido em um ambiente que lhe é familiar.

Continuei a pensar: "E se ficar desatualizado no mercado?", "Perderei todo meu networking?", "Se tudo der errado e tiver que procurar um novo emprego?", "Sentirei falta do glamour?". Mas algo falava mais alto na minha cabeça que precisaria parar em um momento que tivesse saúde e vitalidade para esportes como o surf.

Tinha uma posição alta numa empresa de tecnologia, bastante prestígio, plano de saúde top, academia, bônus anuais, etc. Eu vivia em uma “prisão perfeita”. Tinha a vida que muitas pessoas que almejam o "sucesso" buscam, porém totalmente escravo das circunstâncias.

Simplesmente odiava frequentar eventos, sorrir para pessoas que eu não tinha afinidade, almoço de negócios, fazer happy-hour ou criar relacionamentos com pessoas das quais não queria estar. A vida corporativa é um verdadeiro teatro da vida real onde todos acreditamos nos personagens que criamos.

Foram quase 2 anos planejando, planejando, planejando, conversando com pessoas, vendo filmes e tudo que remetia a viver de renda, sair da matrix, seguir um caminho que me desse mais prazer. Cheguei a contratar um planejador financeiro para garantir que não estava fazendo nenhuma besteira e me dar mais segurança. A teoria da TSR de 4% me ajudou muito a balizar quanto precisaria para adaptar minha renda mensal ao meu custo de vida.

Ainda pensando o FIRE como um plano B, estava decidido propor para meu chefe um ano sabático. A resposta dele foi categórica: “Nem pensar! Certamente todos os outros diretores adorariam fazer isso, mas estamos aqui batalhando pela empresa”. Nessa mesma ligação afirmei que não iria mais continuar. Já tinha decidido que se não fosse possível eu acionaria o plano B. Meu tempo de vida não estava em negociação e eu precisava ser dono do meu destino.


Uma metáfora para descrever a sensação que tinha era como se estivesse meu corpo amarrado a uma mala de dinheiro pesada que me mantinha preso (salário e benefícios), mas que eu poderia me desamarrar para conquistar minha liberdade a qualquer momento. No fim das contas o dinheiro e a segurança gerada é totalmente virtual e nascemos livres. Se não colocarmos um teto, o que conquistamos nunca será suficiente e passamos toda a vida em busca de mais. Quando nos damos conta que a vida é finita e que iremos morrer, aumenta o senso de urgência para usufruir e tendemos a valorizar mais o tempo.


Fiquei dois meses na empresa para garantir que deixaria tudo encaminhado e estaria livre para seguir um novo caminho. Separei em um fundo de investimento o recurso que me atenderia pelos próximos 12 meses. Foi com esse dinheiro que paguei meu próprio “salário” incluindo todas as contas: plano de saúde individual, gastos com a casa, celular, supermercado, lazer, transporte, etc. Passei a ganhar menos do que quando estava trabalhando, mas suficiente para viver de forma confortável e acima da média de muitos brasileiros. Tomei cuidado para não ser irresponsável com o dinheiro e não fazer nenhuma extravagância nesse período, garantindo que meus custos se manteriam dentro do planejado.

Iniciei minha vida FIRE vivendo um padrão de vida como um cidadão de classe média em uma capital do Brasil considerada cara, com certo conforto, mas ciente de que os investimentos são meus "funcionários" e que precisarei cuidar muito bem deles daqui pra frente.

Nos próximos posts vou relatar sobre "Liberdade e o Paradoxo da escolha", "Fluxo de caixa e investimentos", "A romantização do FIRE" e mais.

17 comentários:

  1. IO bem interessante seu relato, principalmente, daquele que já está em uma fase mais adiantada da FIRE. Aguardemos os próximos posts.

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    1. Valeu anon, tem varias coisas acontecendo após esse primeiro ano, mas quero compartilhar com os amigos como foram os acontecimentos desde o dia 1.

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  2. Gostei de conhecer seu blog, iO. Você chegou ao estágio que toda a finansfera deseja. Tenho várias indagações sobre esse seu primeiro ano FIRE! Estou curioso para saber como você tem utilizado seu tempo livre, como a família e amigos lidaram com isso, se pretende complementar a renda com trabalhos pontuais...

    Esperando pelos próximos posts. Abraço!

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    1. Fala Hacker, que bom que curtiu. Cheguei no estágio FIRE mas acompanho muitos blogs e vibro com todos, desde as pessoas que estão começando até os que já tem um longo caminho percorrido. A finansfera é um grupo de desconhecidos, porém nos sentimos próximos e em alguns casos até íntimos. Somos como um grupo de pessoas que se entende e se ajuda e acho isso fantástico.

      Fique a vontade para fazer perguntas. Algumas delas é possível que responda nos proximos posts quando contarei a experiencie do 1º ano. As pessoas que sabem mais são meus pais e irmao(s), já que acompanharam a trajetória de perto, portanto nao foi surpresa. Meus pais sempre me apoiaram quando falei que iria parar, pois eles viam o quanto eu estava sofrendo e cansado da situação. Eles nunca colocaram dinheiro em primeiro lugar, mas sim a satisfacao pessoal.

      Sobre o uso do tempo livre eu vou detalhar mais no próximo post. Vou falar os sobre os altos e baixos, sobre as vantagens e desvantagens de nao trabalhar, e dar algumas dicas para nao passar coisas que eu passei.

      Eu devo sim fazer algum trabalho mas nao com o objetivo de completar a renda, pois minha TSR atende bem minhas necessidades. O trabalho será mais para nao ficar parado, e dinheiro sempre é bem vindo. É claro que a pressão e as escolhas são completamente diferentes quando se atinge o FIRE. Explicarei melhor em breve. Abraço!

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  3. IO parabéns pelo texto. Sou Fire há quase 1 ano. Chutei o balde aos 40 e poucos anos. Me identifico muito com o que você está vivendo. Pra mim o melhor dessa fase é poder planejar tudo sem ter o tempo como restrição. Poder fazer tudo no meu tempo, no meu ritmo. Os conceitos de fim de semana, feriado e férias vão deixando aos poucos de fazer sentido, assim como os símbolos materiais de status. Além da descoberta do mundo através das viagens, a alegria vem das pequenas coisas. Sempre que passo por vitrines de lojas de roupa social, não contigo deixar de lembrar que nunca mais vou ter que usar aquele uniforme corporativo... salvo se me meterem num terno quando eu bater com as dez! Vê se não some, por favor.

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    1. Que irado Anon... Voce tem um blog?
      Sim, é muito bom a gente sentir que tem o poder de escolhe e o controle das nossas vidas. Claro que surgem outras preocupações.
      Uma coisa legal que voce me fez lembrar é que os símbolos de status material realmente mudam. Quando estamos na corrida do trabalho, existe uma pressão social para mostrar seus bens para quem está a sua volta. Essa é uma pressão social que muitas pessoas sentem e buscam inconsientemente. Mas quando voce é FIRE voce nao precisa mostrar nem provar nada para ninguém, apenas para voce mesmo. Nao precisa mais estar com a roupa da moda e nem com o carro X. Pelo menos eu sinto uma liberdade psíquica grande. No fim das contas o dinheiro é muito mais para gerar essa sensação de liberdade do que para ser usado :)

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  4. Parabéns IO! Estou nesse mesmo barco! Faltam 2 anos e 10 meses para eu e a minha esposa atingirmos nossa FIRE!

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    1. Que ótima noticia... Quando começamos a contar os meses é porque já ligamos a contagem regressiva :) E já sabem o que vão fazer? Ambos vão sair do trabalho? Pretendem ficar um tempo viajando? Vi que voce tem um blog vazio, essa pode ser uma ótima oportunidade para começar a compartilhar suas experiencias.

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  5. Acho que o seu blog é o único nacional de alguém que realmente atingiu a IF em nosso país. Parabéns pela conquista.

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    1. Tem também o do SoulSurfer. Ele tem uns relatos bem interessantes de como largou tudo e o porque: http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com/

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  6. Show. Já quero ler o próximo post. Abcs

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    1. Boa AA40! Lembrando que sou fan do seu blog. Para mim é o blog mais maduro da finansfera... Voce da um caráter de estudos e analises muito interessante. É um ponto de partida obrigatório para todos nós. Obrigado por compartilhar posts tão ricos e detalhados.

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  7. Fala IO, que bom que vc voltou a postar. Parece que está tudo bem com vc. Estou ansioso pelos próximos posts. Acredito que conseguirei minha IF próximo ano, então é muito legal ver relatos de pessoas que já a alcançaram.
    Não some!! Abraço e boa sorte.

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    1. Fala Edu, ligou a contagem regressiva hein! Você está compartilhando sua experiência em algum blog? Quando vc atingir sua IF já decidiu o que irá fazer? Pretende continuar trabalhando? Grande abraço!

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  8. Parabéns pela IF!
    Vou ler mais posts sobre a sua independência, mas muito interessante ler esse seu primeiro relato.

    Imagino que quando eu estiver próxima da IF vou ter alguns questionamentos também “será que já tenho o suficiente?” “E se eu ficar só mais um ano pra ter uma reserva maior?” Acho que requer coragem pra viver essa vida tão disruptiva!

    O bom é que a comunidade FIRE Brasil tá crescendo e da pra se sentir menos sozinho nessa trajetória! Conto com o seu apoio quando estiver próxima da minha IF também!

    https://sempresabado.wordpress.com

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